quinta-feira, 3 de março de 2011

PROJETO INVASÃO CULTURAL

Introdução:


No Brasil, de acordo com os dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a esperança de vida de uma criança recém nascida é de 69,4%. Levando em conta que a Paraíba possui a quarta maior taxa de mortalidade infantil do país com 36,5% até os seis meses de vida, perdendo apenas para Alagoas (48,2%), Maranhão (37,9%) e Pernambuco (37,1%), as chances de sobrevivência diminuem consideravelmente.
Estas estatísticas vêm melhorando a cada ano, mas ainda são um impacto terrível para quem as lê e para toda a sociedade. Isso porque sabemos que estes dados não apenas números. Cada uma das partes que compõem os 30,6% restantes, aqueles que não alcançam “esperança de vida” representa uma criança, um ser que não teve a oportunidade de existir, de ser humano efetivamente, muitas vezes por motivos simples, males que poderiam ser evitados, razões ignoradas todos os dias por cada um de nós em nossa rotina corrida e atarefada.
O que significa, na verdade, ter “esperança de vida”? Certamente não é sobreviver simplesmente, acordar vivo dia após dia. Esperança de vida é ter a chance de expressar o caráter humano de cada ser, é poder interferir na comunidade em que vive, é poder desenvolver toda a capacidade que o Homem tem naturalmente de transformar sua própria vida e o que está ao seu redor, evoluindo, crescendo a cada dia.
Infelizmente, atualmente, a mortalidade infantil não é a única barreira, nem a mais triste, para que uma criança tenha “esperança de vida”. Mesmo sobrevivendo aos seis meses e crescendo fisicamente, a maior parte dos brasileiros precisa enfrentar barreiras sociais complexas, obstáculos esses que todos conhecemos e que impedem muitos a ter acesso aos componentes que formam a estrutura de um ser humano em sua completude, elementos que correspondem a “esperança de vida” como a educação, lazer, saúde e profissão.
No Brasil, os cidadãos com 15 anos ou mais possuem apenas 7,4 anos de estudo, o que corresponde ao ensino fundamental incompleto. A dificuldade em cursar o ensino médio, fundamental para o desenvolvimento profissional e humano, é um grande problema que atinge os brasileiros mais pobres em sua maioria. Numa divisão de acordo com a renda familiar onde os agrupados no 1º quinto são os mais pobres e os agrupados no 5º quinto são os mais ricos, a freqüência dos jovens com 15 anos ou mais no ensino médio é a seguinte: 1º quinto: 30,5% freqüentes, 2º quinto: 42,7%, 3º quinto: 54,7%, 4º quinto: 68% e 5º quinto: 78,4%. Estas estatísticas são ainda mais preocupantes se considerarmos a freqüência no ensino superior. Infelizmente, a lógica do mais pobre ser o mais excluído se repete: apenas 1,7% dos brasileiros do 1º quinto chegam às universidades públicas do país contra 62,8% dos brasileiros do 5º quinto.
Deste modo, mesmo os dados não sendo compatíveis com o desenvolvimento econômico do país devido à grande desigualdade social, percebemos que a renda está associada à qualidade de educação recebida, o que reflete também no acesso à cultura e sua produção e no acesso ao lazer, desestruturando assim a formação do cidadão ativo socialmente, uma formação que precisa ser além de profissional, humana. O mesmo ocorre com a saúde e a infra-estrutura de moradia e urbanização, direitos básicos no processo de cidadania.
Ignorar o fato de que 40% da produção cultural como cinema, teatro, livros e museus é consumida apenas pelos 10% da população de maior renda não é caminho. Vivemos em um apartheid cultural que leva às conseqüências já apresentadas por este texto cheio de estatísticas, embora nenhuma delas fosse necessária para que saibamos em que contexto vive nossa sociedade.
Visando esta realidade e acreditando que o papel transformador não cabe apenas às políticas públicas, embora estas tenham responsabilidade fundamental no processo de melhoramento social, acreditamos que a conscientização educacional por meio da produção e instrução cultural é um dos meios que levam o ser humano oprimido e subjugado a se elevar e iniciar o processo de auto-crescimento e transformação de sua comunidade, expressando os questionamentos e posicionamentos acerca do contexto de vida, pois o importante do conhecimento cultural em suas múltiplas facetas não é o seu consumo, o “conhecer por conhecer”, mas a reflexão que ele proporciona. Através dele o sujeito participa do processo de comunicação, informação e socialização. A mente se abre a novos caminhos superando limites e encontrando perspectivas, uma verdadeira “esperança de viver”.



Justificativa:

Em nossa realidade social presenciamos a pobreza em todas as esferas do cotidiano. Tal pobreza vai além do dinheiro, ela atinge a dignidade e a essência humana no momento em que é imposta a um grupo enorme de pessoas, consideradas cidadãs, por meio da exclusão.
Essa exclusão é feita de diversas maneiras, seja quando não damos bom dia aquela pessoa que convive conosco há anos, seja quando ignoramos as condições de vida precárias de uma comunidade em nossa vizinhança.
Deixando de lado os sentimentos que todos têm, despertar para os múltiplos contextos de exclusão é fundamental para uma estrutura social coerente ao bem-estar coletivo buscada a cada tempo eleitoral e sonhada por todos que vivem em comunidade.
Deste modo, visando minimizar o abismo abissal que existe entre as exigências do mercado de trabalho e do nosso cotidiano a cada um de nós e a assistência dada a cada brasileiro contribuinte pelos poderes públicos, a idéia de nosso projeto surge ampliando o horizonte de eficiência de uma mudança social necessária para os moradores da comunidade da Invasão do Meninão através do agente humano transformador, a cultura, ao mesmo tempo em que faz refletir sobre a nossa própria capacidade de agir diante dos dilemas sociais.


Objetivos:

Objetivo geral:
Possibilitar, através de atividades culturais, o desenvolvimento da auto-estima e crescimento humano, de modo que seja iniciado o processo de construção de sujeitos conscientes e criticamente ativos em relação às realidades sociais, podendo alcançar não só sua formação profissional, mas também humana.

Objetivos específicos:
- Aproximar os sujeitos participantes do universo cênico-literário;

- Incentivar a prática de exercícios físicos e o desenvolvimento do corpo;

- Explorar a capacidade de produção cultural e integrá-la a outras produções culturais da sociedade de modo reflexivo e expressivo.


Bibliografia:

Cultura em números: anuário de estatísticas culturais. Brasília: MINC, 2009.

Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Informação demográfica nº 26. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

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